O que estou fazendo aqui?
Não deveria estar em outro lugar?
Percorrendo os caminhos tão sonhados!
Procuro o túnel, a luz, embora esteja distante,
mas distante de quê?
Não consigo enxergar o túnel,
imagine a luz que dizem que existe no final.

Há essa hora, meu irmão mais novo está na escola, mamãe está arrumando a casa, fazendo comida, lavando roupa, louça, azulejo, sim azulejo. Ela pega as escovas de dente já bastante usadas e guarda, umas para limpar os espaços sujos entre os azulejos brancos da cozinha num paciente movimento.
Até parece que não inventaram o detergente. As outras ah...

Papai lida com o cotidiano da aeronáutica, exercícios, viagens, graduações, ordem.

E eu? O que estou fazendo mesmo?

- Ah! Sim, estou escondido de mim mesmo.

Mas tudo isso começou quando...

Após a travessia da infância para minha adolescência,
não quis abandonar a bendita ou maldita chupeta,
ainda lembro sua cor,rosa,
rosa desbotado, com um bico inesquecível,
era tão consistente, tão macio...

Esta lembrança me leva por caminhos tão distantes...
Não que eu os tenha tantos assim.
Mas a saudade que supostamente encontra moradia
naquelas pessoas que indevidamente não vivem o momento...

Ah, eu era feliz e não sabia.
Será?
Prá merda! Onde já se viu tamanha falta de criatividade.

Mas no fundo é legal sentir um * “recuerdo”,
principalmente quando não se trata de saudade ou seja ,
aquela punheta, naquele momento com aquela pessoa,
com aquela disposição, o afã da conquista...

- Papai diz sempre...

Nem sempre às refeições!

Estude, meu filho! Não desperdice, olhe pro futuro.

Quando ele desperdiçou, não guardou e não olhou. Bolas! Bolas de gude, de basket, de futebol, de testículos, de ping pong, de grandes e pequenas proporções nos vestidos brancos ou nos pretos da mamãe, de boliche, de zero nas provas de inglês, círculos, globos...
TODOS-Goooollllll!

O (Vasco) perdeu e falei sério comigo. Nunca mais vou ver um programa de esportes, nem comprar jornal na segunda-feira para saber a classificação do campeonato, rasgarei a camisa e a carteira de sócio. É tudo mentira! Amanhã estarei lentamente voltando aos vícios do esporte, senão como vou saber que gelol é bom para machucado.

Onde andará Flávia?
Fez o 2o grau comigo, bebia como ninguém, e após satisfazer o seu desejo etílico, aflorava seu desejo erótico. Nesta época já era casada e tinha de dar umazinha, nem que fosse para que em casa quando o marido estivesse em suas entranhas, pudesse sentir algum prazer ao imaginar suas aventuras, nos hotéis de lençóis encardidos e assim realizar a sua fantasia de felicidade numa dúbia volúpia. Excito-me em pensar nestas coisas, ainda bem que tudo isso é pensamento, imagina se alguém me ouve?

Deixa de bobagem, ninguém vai querer te ouvir imbecil, tolo, fudido, sozinho...

Quando me refiro o sozinho é porque tem uma multidão me acompanhando, mas, seus universos estão a quilômetros e quilômetros de mim.
Esbarro, peço desculpas, trepo, mas não me sinto acompanhado.

Ah, aquela questão da conquista de novo!

A ilusão de ser sem estar ou de estar sem ser ou de não estar e não ser, isso é praticamente uma viagem pós-alucinógena de ser e estar, mas onde?
Como? Por quê? Para onde? Com quem?

Não definitivamente não, não vou me submeter à cirurgia. Não, dói! Dentista não, ela diz que é pura correção, mas aquela finíssima agulha entrando em minha pele... Aaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

Viestes? Pensei que ia deixar-me falando sozinho, dizes, prá que chegastes? Bebes? Fumas? Comes? Ah, já sei, és a platéia, ha, ha, ha, ha...

Continuo sozinho, só que acompanhado.

Que dissestes? Falas com autoridade de quem conhece o assunto, é claro que sei que tudo era uma farsa. Lógico, ele se casou com ela só para justificar sua posição de macho, mas que adora uma sacanagem e vive se esgueirando nos banheirões da vida.

Sim, a realização está contida nas lembranças acompanhadas dos estimulantes.

Longe de mim fofocas, xô!.

Ainda prefiro o prelúdio de tertúlias, tomando cerveja a qualquer hora. Os paradoxos da competitividade não devem chegar até nós, mal chegastes.

Augustinho toda vez que vai escovar os dentes aperta o tubo de pasta em qualquer lugar, e mamãe fica uma fera porque o tubo de pasta é para ser apertado de maneira ordenada, e quando ele larga a toalha molhada em cima da cama?

Augustinho!

Por que estou falando essas coisas nulas, que não interferem em absolutamente nada na economia, nem na ordem geral do universo. Sinto vergonha! Querer entender economia, ordem do universo...

... Se oriente rapaz... Pela constelação do cruzeiro do sul!

Mas quais são as fronteiras da vergonha?
Do medo? Da ansiedade? Das tênues linhas que confortam o ser humano?

Sinto um cheiro de baseado, que me projeta imagens que vivencio de forma quase que absoluta. Mesmo sem sentir o pacto telúrico da onda, vagueio em veredas, em vertentes secas, procurando além do econômico, tentando me inserir na questão cultural.

Quero beber!

Chá de camomila, é claro, e sem açúcar

Essa questão da bebida é uma praga!
Basta tomar um copinho de cerveja, que para endoidar é questão de minutos,
aí vem um baseado, uma rapa, a libido.

Não é à toa que Flávia endoidece.

A satisfação de querer desenvolver a alegria é tanta
que as relações cimentam-se sobre irônicas frases que pejorativisam o interlocutor,
chega-se a extremos tais
que o charco é uma palavra incompleta para justificar a baixeza de sentimentos.
É como se fosse um magnetismo que de forma imponderada
penetra no âmago do desejo e fica em alguns até o complexo de culpa aparecer,
e quem não tem o complexo?

Aí é tudo festa! A vida é uma festa, aperta um, rápido

Li em algum lugar que ‘a mente humana eqüivale-se a uma grande montanha, e o mais sábios dos homens está caminhando em direção a sua base’.

Se isso for verdade!!!

É isso aí. A animalidade impera sobre os fatos! O aluguel, o condomínio, a obra, o carro, a comida, o médico, o dentista, o trafa... Enfim, o sistema é um amontoado de mercadorias para se consumir, consumir, e consumir é o nosso paraíso, no consumo estão todos os valores. Como você se torna moderno? Se não consome?

Perguntas, bha!

Já está nas lojas o novo CD do Itamar Assumpção, tenho que comprar.

E as festas?
Um coletivo alienado em busca frenética pela possibilidade de gozar, ter prazer, nem que seja solitário a título de exibição
A morte!
Ela virá!
E as dívidas como ficam?
Com o Credicard, com a questão transcendental,
ah, não sabe o que é isso?
É lógico que também vivemos no universo paralelo.

Será que é comum ter preguiça pela manhã?
Por que a vida não começa as 11 horas?

O desejo de nunca estar realmente e a mentira de realmente estar, simboliza nada mais que: A decepção com o prazer foi tal que significou apenas a ejaculação. Porra! Eu não quero só esporrar, eu necessito de ausência total de culpa. Esta árdua posição de João Ninguém, um comprador de ilusões, que no fundo é a conceituação de uma individualidade expandida a esferas de vivências adquiridas, num processo empírico.

E quando essas ilusões se confundem com o cotidiano?